sexta-feira, 23 de maio de 2008

Na batida da onça...

Já faz um certo tempo que estamos na batida das onças aqui do Abobral e ainda não tivemos a oportunidade de capturar nenhuma. Na verdade, já tivemos alguns confrontos, e dois em especial foram de amargar.

No dia 14 de Abril de 2008, foi acuado um macharrão que já tivemos a oportunidade de fotografar em uma carcaça predada. Eram 6h30 da manhã quando eu cheguei de moto da San Francisco, na São Bento, no exato local onde o resto da equipe do projeto tinha saído na batida do macharrão com os cachorros, 15min antes. Dali eu já podia escutar a cachorrada barruando, e ao mesmo tempo, eu me sentia como o cachorro que ficou pra trás! Por 15min eu não cheguei e segui com eles. Mais tarde eu veria que no final das contas foi muito bom eu ter ficado para trás...



Do local onde a corrida começou eu tive que seguir para a sede para pegar as minhas coisas e junto com 2 peões da fazenda arrumar alguns cavalos e voltar para o local inicial. Foi tudo muito rápido, e logo seguimos a galope para encontrar o resto da equipe do projeto. Eles foram seguindo os cachorros por dentro da invernada com a água na altura das coxas, hora na cintura, e foram até atravessar a divisa com a outra fazenda. No meio dessa corrida, o macharrão já havia, em um só momento, matado dois dos nossos cachorros e machucado mais dois.

Para encontrar com o pessoal, já na outra fazenda, dentro da mata de um corixo, tivemos que atravessar este, e nesta travessia, o corixo era bem fundo e largo, tivemos outra baixa, morreu afogado o cavalo de um dos peões que estavam comigo. Enquanto os dois tentavam salvar este animal, eu consegui atravessar com minha égua e mais outra e fui de encontro com o pessoal na mata. Depois de muitos gritos para indicar onde eu estava, aparece o primeiro companheiro, já bem cansado da "batalha", cheio de picadas de abelha na cabeça, e toda a cachorrada. Os outros três companheiros, igualmente cansados, e alguns também ferroados, ficaram na mata e foram buscados a cavalo um pouco depois. Toda essa estória se passou em algumas horas, que para os participantes pareceram uma eternidade. Bom, o saldo dessa saída foram dois cachorros e um cavalo mortos, além de um dos nossos companheiros que se perdeu no meio da correria e só fomos achá-lo mais tarde, já na estrada parque. Percebi então, que se não tivesse ficado para trás, eu não poderia ter dado a ajuda que dei aos meus companheiros de trabalho, e nem aos nossos cachorros, pois alguns, de tão cansados, também ficaram pra trás, e eu que estava mais descansado e montado, pude ir atrás deles. Infelizmente não pudemos capturar aquela onça...

Segunda-feira passada, dia 19 de Maio de 2008, tivemos um novo encontro com esse macharrão, e novamente ele conseguiu escapar. Desta vez não tivemos nenhuma baixa, mas ele mandou mais três cachorros para a enfermaria. Em um deles, foi necessário até uma cirurgia para recuperá-lo, enquanto os outros tiveram cortes menos graves. Todos passam bem, e estão de folga dos trabalhos por um tempo.

Hoje tivemos uma pausa das capturas, e pouco antes do almoço, recebemos o recado de um dos vizinhos avisando que uma onça atacou e matou um bezerro na fazenda que ele toma conta. Fomos agora à tarde lá para verificar a carcaça. Era um bezerro de 6 meses que foi predado numa área de pasto, provavelmente nesta madrugada, e arrastado por cerca de 400m até a mata de um corixo. Lá nós montamos uma armadilha fotográfica e vamos poder saber a que horas o predador vai retornar para se alimentar e quem é essa onça. Até o momento, essa parece ser a nossa melhor chance de capturarmos a primeira onça do projeto e começarmos a acompanhar mais de perto os movimentos desses animais aqui na região.

Amanhã de madrugada, por volta das 4h00, sairemos com nossa cachorrada na tentativa de capturar essa onça. Quem será ela? Será o macharrão que vem dando trabalho, ou é uma das fêmeas que transitam pelo território dele? Espero sinceramente retornar amanhã com boas e novas notícias sobre mais um dia de trabalho na batida da onça...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Por onde começar?

Resolvi criar um blog como forma de manter mais contato com minha família. Atualmente moro em uma fazenda no Pantanal do Abobral (MS), a cerca de 100km de minha esposa e filho, e acho que esta será uma forma da gente manter mais contato e eles saberem o que eu tenho feito.
Espero mantê-lo o mais atualizado possível, e quero também postar coisas sobre os anos passados, que acho boas de se lembrar.


Talvez eu deva começar falando um pouco de mim, não que eu seja egocêntrico, mas pras pessoas que passarem por aqui entenderem um pouco do que se trata isso aqui.

Eu sou biólogo, que além de minha profissão, também é uma paixão. Sou natural de São Paulo onde vivi a maior parte de minha vida e me formei em 1998. Fiz um estágio/trabalho/ajuda no Zoológico de São Paulo por pouco mais de dois anos, até fins de 1999, mais ou menos. Lá pude aprender muita coisa com as pessoas que trabalham lá, mas principalmente com os animais que vivem lá. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, os animais do Zoo são muito bem tratados, sendo que a grande maioria ou nasceu em Zoos, ou foram apreendidos em alguma operação de entidades ambientais, acabando por lá. Estou falando isso, porque muita gente acha que os animais foram capturados da natureza para serem colocados no cativeiro, e isso não é verdade. Nós devemos olhar para os animais de zoológicos com respeito, e aprender com eles sobre os membros das mesmas espécies que ainda vivem na natureza, e assim contribuir para que estes sejam mantidos no seu habitat natural, não incentivando por exemplo, o comércio de animais da nossa fauna. Bom, chega de sermões que a idéia não era essa...

Em 2000 vim pela primeira vez pro Pantanal e não voltei mais. Já se passaram oito anos desde que cheguei, mas sempre consigo ver coisas novas aqui no Pantanal. Foi aqui que me apaixonei três vezes, primeiro pelo Pantanal, depois por minha esposa Carol, e por último (apenas cronologicamente) por meu filho Pedro. Hoje eles vivem na Fazenda San Francisco e eu na Fazenda São Bento, e a gente se vê todos os fins-de-semana.

Desde 2005 trabalho em projetos de pesquisa envolvendo conflitos entre onças e criação de gado. É um trabalho interessante, necessário, por vezes frustrante, mas no geral algo que gosto muito de fazer. As coisas lindas que a natureza nos proporciona pagam as frustrações com o retaliamento que as onças recebem e o pensamento de muitas pessoas de que o que fazemos é "bobagem". Na verdade é essa beleza toda da vida na região que dá vontade de seguir em frente e tentar ajudar na resolução (minimização?) do conflito e atingir a conservação da espécie.

Espero que quem leia estas postagens goste. Fiquem à vontade para fazer comentários.

Até breve,
Henrique