quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mais uma de tatus... Essa é pro Pepito!

Hoje a gente estava passando pelo retiro quando de longe vimos um bichinho no meio da estrada. Quando chegamos mais perto pudemos ver que era um filhote de tatu-peba! Pois é, esse mês rendeu muita história de tatu...
Bom, rodeando esse tatuzinho tinha um carcará, que pelo jeito estava de olho numa possível refeição. Sem querer interferir, mas já interferindo com a nossa chegada, o carcará voou pra longe, mas o tatu continuou ali, parado no meio da estrada, alheio a nossa aproximação. Pra quem não conhece muito sobre esses bichos, os tatus enxergam muito mal e dependem praticamente só do olfato e da audição pra perceberem as coisas ao redor. Paramos o carro, e ele veio chegando cada vez mais perto, até parar embaixo da gente! Aí resolvemos pegá-lo, e tirá-lo da estrada, e foi quando eu pude tirar as fotos que ilustram essa postagem.

Meu filho Pedro ficou tão fascinado com essa história do "pebinha", que por uma semana, todos os dias quando a gente se falava no telefone, ele me pedia pra contar de novo e de novo a história do tatuzinho-peba. O mais engraçado é que ele já lembra melhor dos detalhes do que eu! Agora ele pode ver a história no computador da mãe dele quando quiser e vai poder "corrigir" alguma coisa que eu tenha esquecido. Só não sei se ela vai gostar muito do repeteco todo que deve acontecer...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Predação

Hoje eu encontrei dois tatus-peba predados por uma onça-parda dentro de um capão e fiquei pensando nas farras que eu vi esses dias atrás... Estavam um a cerca de 5m do outro, e ambos foram predados no mesmo dia (mesmo momento?).

Será que esses bichos não estão mais sujeitos à predação durante essas épocas de "farra"? Será que existe uma época em que esse comportamento do tatu-peba ocorre com mais freqüência? Se caso positivo, deve haver uma vantagem bem grande para esses animais se juntarem assim em bandos, que justifique se exporem a um maior risco de predação...

Quem sabe a gente, ou outros pesquisadores que trabalhem com tatus, consigam descobrir alguma coisa a este respeito...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Farra de tatus!

Tatu-peba (Euphractus sexcinctus)
Ontem, enquanto eu estava fazendo o trabalho rotineiro do projeto de vasculhar as invernadas da fazenda atrás de possíveis carcaças de animais predados por onças, eu consegui registrar uma das cenas mais inusitadas que eu já vi no Pantanal, uma farra de tatus!

A primeira vez que eu vi isso, já fazem alguns anos, e foi junto com o seu Getúlio e o Rica, lá na fazenda Caiman, durante uma saída atrás de porco monteiro. Na época, eu e o Rica achamos uma viagem aquela meia dúzia de tatus, uns atrás dos outros em fila, e o seu Getúlio, com toda sua experiência de Pantanal falou: -"Isso é farra. Tatu faz igual cachorro". Achei aquilo muito legal, mas nunca mais eu tinha visto.


Aí, no dia 22 de Maio passado, estávamos eu e seu João indo levar a Tatiana (veterinária) que veio trabalhar no projeto ao Buraco das Piranhas, quando a gente vê sete tatus-peba correndo em fila indiana. Na hora me lembrei do seu Getúlio e do termo "farra de tatu". Paramos o carro e ficamos olhando. Aparentemente havia apenas uma fêmea, com uma fila de cinco tatus (machos?) atrás dela, e ela foi seguindo até entrar num capão, lograr aquela galera lá dentro, e reaparecer sozinha do lado de fora. Foi quando apareceu um sétimo tatu, vindo do outro lado, chegou perto dela e já montou para cruzar! Logo depois foram aparecendos os outros e saiu aquela fêmea correndo com um macho pendurado nela (próxima foto)!

Ontem, enquanto eu andava dentro de um dos capões procurando carcaças eu vi a maior farra de tatus! Eram 12 tatus dentro de uma área de 50m2, fazendo a maior zoeira. Entravam e saiam do mesmo buraco, se cheiravam, se estranhavam, corriam uns atrás dos outros, isso tudo a não mais do que 5m de mim. Foi engraçado porque, primeiro eu vi apenas um tatu, e a máquina estava guardada. Logo em seguida eu vi mais dois, e pensei: "será que dá tempo de pegar a máquina?". Mas não deu, pois eles me perceberam, só que foi aí que eu vi, alguns metros pra frente, mais nove tatus-peba andando em fila indiana! Aí eu não resisti, amarrei o cavalo, peguei a máquina e saí de mansinho até o centro da "confraternização", de onde tirei as fotos que ilustram essa postagem. O mais legal, é que depois de tudo eu ainda consegui ir embora sem que os tatus nem se dessem conta de que eu estive ali. É por isso que a gente acha tanto tatu predado... Ainda bem que tem essas farras de tatu pra manter a população!



sexta-feira, 23 de maio de 2008

Na batida da onça...

Já faz um certo tempo que estamos na batida das onças aqui do Abobral e ainda não tivemos a oportunidade de capturar nenhuma. Na verdade, já tivemos alguns confrontos, e dois em especial foram de amargar.

No dia 14 de Abril de 2008, foi acuado um macharrão que já tivemos a oportunidade de fotografar em uma carcaça predada. Eram 6h30 da manhã quando eu cheguei de moto da San Francisco, na São Bento, no exato local onde o resto da equipe do projeto tinha saído na batida do macharrão com os cachorros, 15min antes. Dali eu já podia escutar a cachorrada barruando, e ao mesmo tempo, eu me sentia como o cachorro que ficou pra trás! Por 15min eu não cheguei e segui com eles. Mais tarde eu veria que no final das contas foi muito bom eu ter ficado para trás...



Do local onde a corrida começou eu tive que seguir para a sede para pegar as minhas coisas e junto com 2 peões da fazenda arrumar alguns cavalos e voltar para o local inicial. Foi tudo muito rápido, e logo seguimos a galope para encontrar o resto da equipe do projeto. Eles foram seguindo os cachorros por dentro da invernada com a água na altura das coxas, hora na cintura, e foram até atravessar a divisa com a outra fazenda. No meio dessa corrida, o macharrão já havia, em um só momento, matado dois dos nossos cachorros e machucado mais dois.

Para encontrar com o pessoal, já na outra fazenda, dentro da mata de um corixo, tivemos que atravessar este, e nesta travessia, o corixo era bem fundo e largo, tivemos outra baixa, morreu afogado o cavalo de um dos peões que estavam comigo. Enquanto os dois tentavam salvar este animal, eu consegui atravessar com minha égua e mais outra e fui de encontro com o pessoal na mata. Depois de muitos gritos para indicar onde eu estava, aparece o primeiro companheiro, já bem cansado da "batalha", cheio de picadas de abelha na cabeça, e toda a cachorrada. Os outros três companheiros, igualmente cansados, e alguns também ferroados, ficaram na mata e foram buscados a cavalo um pouco depois. Toda essa estória se passou em algumas horas, que para os participantes pareceram uma eternidade. Bom, o saldo dessa saída foram dois cachorros e um cavalo mortos, além de um dos nossos companheiros que se perdeu no meio da correria e só fomos achá-lo mais tarde, já na estrada parque. Percebi então, que se não tivesse ficado para trás, eu não poderia ter dado a ajuda que dei aos meus companheiros de trabalho, e nem aos nossos cachorros, pois alguns, de tão cansados, também ficaram pra trás, e eu que estava mais descansado e montado, pude ir atrás deles. Infelizmente não pudemos capturar aquela onça...

Segunda-feira passada, dia 19 de Maio de 2008, tivemos um novo encontro com esse macharrão, e novamente ele conseguiu escapar. Desta vez não tivemos nenhuma baixa, mas ele mandou mais três cachorros para a enfermaria. Em um deles, foi necessário até uma cirurgia para recuperá-lo, enquanto os outros tiveram cortes menos graves. Todos passam bem, e estão de folga dos trabalhos por um tempo.

Hoje tivemos uma pausa das capturas, e pouco antes do almoço, recebemos o recado de um dos vizinhos avisando que uma onça atacou e matou um bezerro na fazenda que ele toma conta. Fomos agora à tarde lá para verificar a carcaça. Era um bezerro de 6 meses que foi predado numa área de pasto, provavelmente nesta madrugada, e arrastado por cerca de 400m até a mata de um corixo. Lá nós montamos uma armadilha fotográfica e vamos poder saber a que horas o predador vai retornar para se alimentar e quem é essa onça. Até o momento, essa parece ser a nossa melhor chance de capturarmos a primeira onça do projeto e começarmos a acompanhar mais de perto os movimentos desses animais aqui na região.

Amanhã de madrugada, por volta das 4h00, sairemos com nossa cachorrada na tentativa de capturar essa onça. Quem será ela? Será o macharrão que vem dando trabalho, ou é uma das fêmeas que transitam pelo território dele? Espero sinceramente retornar amanhã com boas e novas notícias sobre mais um dia de trabalho na batida da onça...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Por onde começar?

Resolvi criar um blog como forma de manter mais contato com minha família. Atualmente moro em uma fazenda no Pantanal do Abobral (MS), a cerca de 100km de minha esposa e filho, e acho que esta será uma forma da gente manter mais contato e eles saberem o que eu tenho feito.
Espero mantê-lo o mais atualizado possível, e quero também postar coisas sobre os anos passados, que acho boas de se lembrar.


Talvez eu deva começar falando um pouco de mim, não que eu seja egocêntrico, mas pras pessoas que passarem por aqui entenderem um pouco do que se trata isso aqui.

Eu sou biólogo, que além de minha profissão, também é uma paixão. Sou natural de São Paulo onde vivi a maior parte de minha vida e me formei em 1998. Fiz um estágio/trabalho/ajuda no Zoológico de São Paulo por pouco mais de dois anos, até fins de 1999, mais ou menos. Lá pude aprender muita coisa com as pessoas que trabalham lá, mas principalmente com os animais que vivem lá. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, os animais do Zoo são muito bem tratados, sendo que a grande maioria ou nasceu em Zoos, ou foram apreendidos em alguma operação de entidades ambientais, acabando por lá. Estou falando isso, porque muita gente acha que os animais foram capturados da natureza para serem colocados no cativeiro, e isso não é verdade. Nós devemos olhar para os animais de zoológicos com respeito, e aprender com eles sobre os membros das mesmas espécies que ainda vivem na natureza, e assim contribuir para que estes sejam mantidos no seu habitat natural, não incentivando por exemplo, o comércio de animais da nossa fauna. Bom, chega de sermões que a idéia não era essa...

Em 2000 vim pela primeira vez pro Pantanal e não voltei mais. Já se passaram oito anos desde que cheguei, mas sempre consigo ver coisas novas aqui no Pantanal. Foi aqui que me apaixonei três vezes, primeiro pelo Pantanal, depois por minha esposa Carol, e por último (apenas cronologicamente) por meu filho Pedro. Hoje eles vivem na Fazenda San Francisco e eu na Fazenda São Bento, e a gente se vê todos os fins-de-semana.

Desde 2005 trabalho em projetos de pesquisa envolvendo conflitos entre onças e criação de gado. É um trabalho interessante, necessário, por vezes frustrante, mas no geral algo que gosto muito de fazer. As coisas lindas que a natureza nos proporciona pagam as frustrações com o retaliamento que as onças recebem e o pensamento de muitas pessoas de que o que fazemos é "bobagem". Na verdade é essa beleza toda da vida na região que dá vontade de seguir em frente e tentar ajudar na resolução (minimização?) do conflito e atingir a conservação da espécie.

Espero que quem leia estas postagens goste. Fiquem à vontade para fazer comentários.

Até breve,
Henrique